#CriativosBSB: “Não existe mercado igual ao nosso”, Thiago Reis (Fields360) - Sambacomm

#CriativosBSB: “Não existe mercado igual ao nosso”, Thiago Reis (Fields360)

Data: 18/02/2021 - 06h35
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A emergência da Economia Criativa nos últimos anos impulsionou o crescimento de diversos setores na capital federal. Para ter ideia do impacto do trabalho criativo na área de Publicidade e Propaganda em Brasília, o estudo “Panorama da Economia Criativa no Distrito Federal” mostra que os segmentos de mídia, new media e serviços criativos são os mais promissores para acelerar o desenvolvimento, produção e consumo da capital do País.

Uma coisa é clara: quando se trata de Brasília, a soma de alta qualificação de mão de obra, forte presença da administração pública com salários acima do mercado privado e elevada renda per capita resultam em um mercado potencial para a economia criativa.

Com o olhar daquelas pessoas à frente da criação de grandes ações e campanhas memoráveis, a Sambacomm traz uma série de entrevistas com profissionais de criação de BSB, nomes que atuam nas principais agências de publicidade da cidade. Para nossa primeira conversa, convidamos o vice-presidente de Criação da agência Fields360 Thiago Reis.

Reconhecido como publicitário do ano em 2018, pelo Prêmio Colunistas Brasília, o criativo recifense veio para Brasília em 2015 coordenar as campanhas do Ministério dos Esportes para as Olimpíadas e ficou. Hoje, é apaixonado pela cidade e acredita que há muito espaço para ser criativo na capital, ao contrário do que muitos pensam.

 

Sambacomm: Quando chegou a Brasília em 2015, sentiu muito diferença no tipo de trabalho criativo desenvolvido aqui? Como foi sua adaptação ao ritmo de trabalho na Capital?

Thiago Reis (Fields 360): Minha cabeça mudou ao vir para Brasília e é difícil explicar para quem não vive aqui como funciona a mecânica desse lugar, as dinâmicas de concorrência a cada trabalho é um capítulo à parte no processo de adaptação profissional. Ao me mudar para cá percebi que tanto a cidade como o mercado publicitário funcionam de uma forma diferente do restante do país e o quanto isso é transformador na vida de quem se propõe a viver essa experiência. Hoje, eu me sinto adaptado pessoalmente e profissionalmente e enxergo com bons olhos o desafio de ser criativo em campanhas de utilidade pública. É um mercado que vive um momento de transformação assim como todos os outros, mas com desafios muito particulares, e percebo a comunicação local se desafiando cada vez mais e fazendo muitas experiências. Apesar dos inúmeros desafios burocráticos temos muitas possibilidades de sair da caixa, virar a roda e produzir trabalhos relevantes com impactos reais na vida das pessoas.

Quando assumi criação na Fields, me preocupei em não perder o raciocínio do mercado privado, com atenção aos detalhes técnicos em cada etapa, sem perder o foco em atingir os objetivos de cada demanda, e as conquistas foram acontecendo no dia a dia. O reconhecimento de profissional do ano, pelo Prêmio Colunistas em 2018, além de premiações nacionais e internacionais foram um importante norte para a percepção do trabalho diferente e criativo que estávamos fazendo. Foi muito gratificante ver de perto a agência conquistando espaços, subindo degraus, e chegando a ser premiada duas vezes como agência do ano. Acho que a experiência no mercado privado me ajudou a complementar o entendimento do mercado público de Brasília.

Sambacomm: Com tantos anos de experiência e reconhecimento, como avalia a abertura do nosso mercado para ações e campanhas mais inovadoras?

Thiago Reis (Fields 360): Acredito que todos os mercados em diferentes épocas sempre viveram processos de transformação e busca por inovação, agora não pode ser diferente, o desafio da nossa geração é disputar espaço com uma grande capilaridade de formatos, entretenimento e o consumo de conteúdo e se temos a pretensão de fazer parte da vida das pessoas, das rodas de conversa e promover mudanças de comportamento, a nossa comunicação precisa estar cada vez mais embalada em um formato de conteúdo e menos no formato de interrupção. O nosso trabalho não pode ser o material que interrompe as pessoas no momento em que estão consumindo o conteúdo que interessa a elas. Você já parou para pensar que o nosso trabalho é a ferramenta que diversas plataformas usam para forçar as pessoas a assinarem a versão premium? “Se você não pagar eu vou te mostrar propaganda”, acho que não podemos estar satisfeitos com esse modelo.

Sambacomm: Para você, existem desafios específicos no trabalho criativo feito em Brasília?

Thiago Reis (Fields 360): Sim, o mercado de Brasília é pautado por clientes públicos e as agências precisam se adequar a esse modo de produção, desde o briefing, processos de concorrência, até na própria relação com o cliente e fornecedores que diferentemente do setor privado, tem uma série de limitações legais, consequentemente o trabalho fica mais burocrático e acaba interferindo no processo criativo como um todo. Além disso, o cenário político vira um
ingrediente a mais no nosso processo criativo, precisamos ter uma atenção redobrada e outras preocupações que o mercado privado não tem com grandes variações em curto espaço de tempo.

Sambacomm: Em comparação com outros mercados expressivos de comunicação, qual sua opinião sobre a valorização do trabalho criativo em Brasília em relação a outras com grandes cidades?

Thiago Reis (Fields 360): Podemos falar dessa “valorização” sob dois aspectos. A percepção da importância de se colocar um trabalho criativo na rua e ser relevante para o público, fugir da “chapa branca”, e da relação direta com o modelo de negócio, ou seja, as agências receberem uma remuneração proporcional ao seu nível criativo.

Em relação ao primeiro ponto, não concordo com o discurso de que só é possível fazer trabalhos criativos e relevantes trabalhando em grandes centros de comunicação como SP por exemplo. Muitos trabalhos criativos e relevantes foram desenvolvidos aqui em Brasília em diversas agências e fora delas também, Brasília é um polo de criatividade nas suas diferentes formas, no entretenimento, na gastronomia, na moda etc e o intercâmbio cultural que está no DNA da cidade é muito importante para esse resultado, quando mais aberto o mercado estiver para essas trocas, mais ele irá evoluir.

Já sobre a relação direta da remuneração das agências com a entrega criativa, acredito que ainda demore um pouco para sentirmos essa mudança por aqui, outros centros já vivenciam a remuneração por sua entrega criativa de forma descentralizada a mídia e produção por exemplo e isso muda completamente as regras do jogo. Como a nossa mudança de mercado passa necessariamente por mudanças em editais e processos licitatórios temos uma estrutura mais etapas de mudanças e consequentemente um tempo maior para acontecer.

Sambacomm: Fazendo uma retrospectiva, como avalia o trabalho que desenvolveu aqui e quais são as campanhas que mais te orgulharam?

Thiago Reis (Fields 360): Quando decidi vir para Brasília e nos meus primeiros anos aqui, ouvi de algumas pessoas que eu estava correndo o risco de frear minha carreira criativa e é muito legal perceber que aconteceu justamente o contrário, tive a oportunidade de participar de diversos trabalhos criativos que me orgulha bastante e é realmente difícil para mim elencar só 2 ou 3, pois nós realmente fizemos de tudo, produzimos filmes, clipes, musicas, game para celular, scaperoom, anúncios, ativações em estádios de futebol, redes sociais, desenho animado, enfim, muita coisa, nós levamos muito a sério aqui o conceito de pensar no 360 da campanha.

Em 2017, por exemplo, fizemos a primeira campanha do Ministério da Saúde sobre HPV voltada para a temática dos e-sports e dos games. Gravamos a campanha com o Zangado, produzimos um jogo para celular e conseguimos posicionar o Ministério como uma persona conectada com esse universo. Para você ter noção, em uma transmissão ao vivo do CBLOL na Sportv, fizeram uma chamada falando que o Ministério estava lá, conectado. Fomos a única marca não patrocinada citada durante a transmissão.

Outro case que lembro foi a campanha de vacinação HPV Meningite C do Ministério da Saúde em 2018, que foi um filme para TV que fazia referência às principais séries e desenhos assistidos pelos jovens na época com vários easter eggs. A campanha se tornou um dos filmes mais assistidos na história do canal do youtube do ministério.

No final do ano passado produzimos um filme que conta uma história linda para a ABTO e que incentiva a doação de órgãos, é impossível não se emocionar. Todos esses cases são consequência da abolição do pensamento de que “em Brasília não dá para fazer isso”. É um diferencial que foi um grande aprendizado na minha carreira e tenho a certeza de que estamos apenas
começando.