#CriativosBSB: "Vivemos em um mundo com possibilidades infinitamente maiores do que antes" (Gustavo Tirre, Artplan) - Sambacomm

#CriativosBSB: “Vivemos em um mundo com possibilidades infinitamente maiores do que antes” (Gustavo Tirre, Artplan)

Data: 04/03/2021 - 06h00
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O poder de uma propaganda criativa é imensurável. Em mercados tão específicos como o de Brasília, as melhores propagandas são aquelas que, além de criativas, transmitem algo valioso para quem as vê, uma emoção, um sentimento, um vínculo. Para ter ideia do impacto do trabalho criativo na área de Publicidade e Propaganda em Brasília, o estudo “Panorama da Economia Criativa no Distrito Federal” mostra que os segmentos de mídia, new media e serviços criativos são os mais promissores para acelerar o desenvolvimento, produção e consumo da capital do País.

Em busca constante de ser um lugar de encontro que dê voz às pessoas à frente da criação de grandes ações e campanhas memoráveis, a Sambacomm traz uma série de entrevistas com profissionais de criação de BSB, nomes que atuam nas principais agências de publicidade da cidade. Para nossa terceira conversa, convidamos o diretor de criação da Artplan Gustavo Tirre.

Há mais de 30 anos no mercado de comunicação do Brasil, o publicitário carioca tem passagem por grandes agências brasileiras e está há 15 anos na Artplan, onde exerce o cargo de Diretor de Criação desde 2011, primeiro no Rio e, desde 2018, em Brasília, criando campanhas para clientes como: Amil, Estácio, L’oréal, Niely, Rock in Rio, Cultura Inglesa, Leader, Technos, Rede Unno, Caixa, Correios, Banco do Brasil, CNI, CFM, Secom, Embratur, entre outros. Entre seus principais prêmios, destacam-se: Leão de Bronze em Cannes para o Banco do Brasil, Bronze no The One Show para os Correios, 02 Grand Prix na ABP/Festival Internacional do Rio, 03 Grand Prix no CCRJ – Clube de Criação do Rio de Janeiro. Possui ainda, bronze no CCSP – Clube de Criação de São Paulo –, Grand Prix “Opinião do Leitor” no Prêmio Abril e Prêmio O Globo, todos como Redator. Já como Diretor de Criação tem ainda 01 leão de prata e 01 leão de bronze em Cannes e dois Prêmios Effie Awards.

Com tanto tempo de experiência em diferentes mercados do País, como avalia o trabalho criativo desenvolvido em Brasília?  Existe algum tipo de diferencial no trabalho criativo no mercado da capital?

A primeira grande diferença lógica, que não pode ser um impeditivo, é que em Brasília temos mais clientes públicos, enquanto outros mercados têm predominância de clientes privados. A ótica aqui é diferente. Em outras cidades, você trabalha com “aquela” marca específica, mas não é obrigado a passar por uma série de concorrências a cada job.The One Club / The One Show - Archive of Award Winners

Atendendo contas públicas, todos os processos são diferentes, a começar pela relação com o contratante. Nesse caso, é mais difícil construir relacionamento com o cliente que poderia durar muitos anos, porque seu contrato tem prazo de validade. Nos meus 12 primeiros anos de trabalho na Artplan Rio, também atendia contas em Brasília diretamente, trabalhei muito pra Correios, Banco do Brasil, Caixa, entre outros.

Em conversa com profissionais da área de Brasília, muitos me relataram que se sentem engessados para inovar no mercado. Como avalia a abertura (ou não) da cidade para inovar no trabalho criativo?

Brasília é um mercado como qualquer outro do País, por isso não há razão para não se inovar em contas públicas.  Em 2008, conquistamos o Leão de Bronze em Mídia para o Banco do Brasil. Trocamos o nome de 300 agências de todo o País, demos nome próprio à cada uma: Banco do João, Banco da Maria. As pessoas iam para as fachadas, tiravam fotos, enviavam email ao gerente agradecendo. Imagina se tivéssemos redes sociais naquela época? Ia ser um buzz incrível com alto engajamento.

Recentemente, em 2018, ganhamos um Leão de Ouro por nosso trabalho para a Secom em prol do fim da violência contra a mulher, com o case “Coração pede Socorro”. E mais dois Prêmios Effie para a Secom que medem não apenas a criatividade, mas também a eficácia e resultado das campanhas. Ou seja, mesmo sob uma ótica de conta pública, é necessário ter o olhar atento para “cavar” oportunidades e fazer algo relevante também como cidadãos e não apenas como publicitários.

Simone e Simaria estrelam campanha de combate à violência contra a mulher

Esses são dois exemplos concretos de campanhas que tiveram um alcance muito grande. Os prêmios foram apenas um “validador” do nível de qualidade do trabalho que estamos desempenhando, mas a repercussão, o engajamento e a causa por trás das campanhas nos orgulham. Fomos capazes de construir debates. No “Coração pede Socorro”, tivemos o aumento de 101% no número de ações ligações do disque denúncia. A campanha teve relevância e ajudou a minimizar esse problema tão grave no Brasil.

Você trabalhou em campanhas que tiveram grande impacto positivo na sociedade. Como é “vender” essas ideias aos clientes públicos? Como é a recepção dessas ideias bem criativas?

O mérito de todas as campanhas que têm grande alcance e repercussão é tanto da agência, quanto do cliente. Nesses dois exemplos que dei, onde conquistamos dois Leões, para o Banco do Brasil e Secom, é super importante se reconhecer também o cliente que teve ousadia e coragem para prosseguir com a ideia. Claro que nem tudo que a gente pensa, a gente pode fazer. Há um limite do ponto de vista jurídico, de contratos. Há uma burocracia sim, maior. Mas repito, de novo, isso não é um impeditivo. É uma questão de se adaptar ao cenário, limites, cronograma.

Para as contas públicas, tento sempre trazer um pouco da minha bagagem e aprendizado do ambiente privado para sempre melhorar a ideia, a campanha que estamos desenvolvendo. Pelo lado de lá, das contas publicas, as equipes também buscam o mesmo. Essa conexão com o cliente que temos que manter. O grande barato de trabalhar com criação é que estamos sempre aprendendo alguma coisa nova que a gente não dominava antes, todo dia é diferente e não há uma repetição. A criatividade não está só dentro da agência, está no conteúdo, nas redes sociais, nas marcas, nos veículos, em tudo.

Como foi manter essa conexão com o cliente e tirar do papel ideias criativas em tempos de pandemia? Como a agência se adaptou

Tivemos de nos adequar rapidamente. Em uma semana, estávamos todos 100% remoto e trabalhando com novas ferramentas. Todas essas grandes mudanças que acontecem no mundo aceleram processos que já estavam em curso anteriormente. Já se falava e se vivia a questão do home office, há muito tempo. Ficamos até mais ágeis no trabalho remoto.

Dá pra ver que a gente pode sim trabalhar de forma remota e ser até mais produtivo. Aprendemos a fazer brainstorming à distância, a acompanhar filmagens por video, logo no começo da pandemia. Em 2020, botamos muita coisa na rua, mas também tivemos de olhar para dentro, como a gente se entende como empresa nesse mundo que mudou. Como é que a gente vai reformatar nosso trabalho. O olhar interno para a nossa empresa também mudou. Trabalhamos a valorização do trabalho criativo, mas ao mesmo tempo o respeito à diversidade e ao time. A gente buscou acolher as pessoas de forma legítima. E isso vai ficar para sempre.