Menines, eu vivi – 02 – Cláudio Bojunga & Oliveira, Murgel

Data: 22 de setembro de 2022 - 14:23
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Pequenas grandes histórias da publicidade carioca.

por Toninho Lima

1979 / CLÁUDIO BOJUNGA

Neste ano, nascia minha primeira filha, Fernanda. O governo, ainda militar, estava para mudar de mãos, passando do sóbrio e discreto general Ernesto Geisel para o fanfarrão e impulsivo general João Figueiredo, aquele que dizia gostar mais do cheiro de cavalos do que de cheiro de gente. Mas já começava a se ensaiar uma luta pelas liberdades, inclusive com a fundação da Associação Nacional de Jornais, a ANJ, até hoje combativa. E o próprio Figueiredo sancionou, em agosto, a Lei da Anistia.

Eu já era um redator estabelecido quando a L&M Propaganda sofreu um racha na sociedade, se dividindo entre duas novas agências: a Oliveira, Murgel e a MM&C. Obviamente, eu queria muito continuar trabalhando com o Mauro Matos, mas ele próprio me convenceu a seguir meu próprio caminho.

Foi assim que, com um frio na barriga, assumi, junto com o diretor de arte Marcos Guedes, a criação da estreante Oliveira, Murgel. E onde tive como chefe direto o Lindoval de Oliveira, um craque da publicidade carioca que controlava as contas publicitárias da Embratel, de O Globo e muitas outras que vieram se somar ao longo da implantação da agência num sobrado no Rio Comprido. Eu estava então com 27 anos e aquele seria o primeiro grande desafio na minha carreira ainda tão recente. Portanto foi com muita apreensão que assumi a responsabilidade.

Uma das novas contas da agência era o Grupo Desenvolvimento, do controverso Múcio Athayde, ex-deputado e empreendedor do projeto chamado na época de Centro da Barra, e que começou com o lançamento das famosas torres cilíndricas na Barra da Tijuca. Para atender a esse cliente precisei contratar um redator para a Oliveira, Murgel. Foi assim que conheci um jovem e talentoso criativo chamado Claudio Marcelo Pereira, apelidado de Claudio Bojunga, em referência ao renomado jornalista da Veja.

Além de ser uma pessoa de ótima índole e de excelente temperamento, Bojunga era brilhante. Encarou o novo job com tranquilidade e brilho. No final dos anos 1970, a Barra ainda era um lugar em desenvolvimento que lembrava bastante Brasília, até mesmo no traço de Lúcio Costa. Inspiradas nessa gênese, as fantásticas torres de Athaydeville foram lançadas em duas páginas sequenciais de O Globo com a sacada simples e genial do Bojunga. Na primeira página, o projeto original de Lúcio Costa e uma chamada: O FUTURO DA BARRA. Na página seguinte, a apresentação do projeto das torres de Athaydeville e o complemento: A BARRA DO FUTURO (abaixo uma imagem ilustrativa, das obras à época).

FOTOGRAFIA VISTA DA CONSTRUÇÃO DE 3 TORRES DO ATHAYDEV

Só não foi um sucesso maior porque o empreendimento era apenas uma louca fantasia e não foi adiante. Hoje, há apenas uma das torres, sobrevivente, e o esqueleto inconcluso de uma segunda, no local. Faz alguns anos, Claudio foi levado por um câncer. O famoso bairro planejado nunca se realizou. Mas o redator brilhante e amigo ficou para sempre na minha memória.

Desta época, destaco o anúncio criado na Salles Interamericana pela dupla carioca formada pelo redator Bernardo Vilhena (ele mesmo, o letrista parceiro de Lobão, Ritchie e outros artistas de sucesso nos anos 1980) e o brilhante diretor de arte Delano D’Ávila, com uma sutileza fina e elegante para uma abordagem quase política. E o maior sucesso da propaganda brasileira: o Garoto Bombril, da DPZ.

Outros colegas memoráveis da Oliveira, Murgel: Marcos Alberto Guedes, diretor de arte, ainda minha dupla de criação e padrinho da minha filha Fernanda. Giu Ferreira, ex-piloto de automobilismo e profissional de atendimento. Marisa Faria de Menezes, rtvc que eu já conhecia da L&M, mas que a partir daí sempre esteve presente, viabilizando as mais incríveis ideias.