Menines, eu vivi – 07 – Roberto Medina, Roberto Medina e… Roberto Medina.

Data: 24 de março de 2023 - 05:37
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Pequenas Grandes Histórias da Publicidade Carioca.

Por Toninho Lima.

1991 / Artplan

Quando eu recebi a visita agradabilíssima do meu VP de Criação na J. Walter Thompson, vindo de São Paulo especialmente para almoçar comigo no Degrau – pertinho da agência, no Leblon – para em seguida me comunicar que eu estava sendo desligado da empresa, abriu-se um buraco no chão.

Nada mais inesperado do que aquele bilhete azul depois de um belo prato de arroz, feijão e pastel de carne, invenção minha que o Degrau preparava com exclusividade. Devo ter ficado com aquela mesma expressão de parvo do presidente da república da época, o Itamar Franco. Enquanto o Príncipe Charles sambava, todo desengonçado, com a passista Pinah na Avenida Presidente Vargas, eu juntava meus trapinhos e ia para casa.

Um detalhe especial tornava dramático aquele momento: minha mulher estava grávida de oito meses. O ativista sul-africano Nelson Mandela visitava o Brasil, e logo em seguida, o Papa João Paulo II estaria beijando o piso do aeroporto do Rio de Janeiro. Nenhum dos dois tomou conhecimento da minha aflição.

Em 1991, Mandela visitou o Rio em busca de apoio para a eleição  presidencial | Acervo

Sem saber de nada disso, Roberto Medina tentava curar as feridas deixadas pela segunda tentativa de colocar o seu festival Rock in Rio de pé, que resultou até mesmo em seu sequestro. Eu mal sabia que nossos destinos estavam para se cruzar. Pouco antes de ser demitido, eu havia contratado uma dupla de criação para a equipe da JWT: Wanderley Dóro e Hélio Rosas. Um belo dia, recebo uma ligação do Wandeko: “Estamos saindo da Thompson e vamos para a Artplan. Quer vir com a gente?” Dias depois lá estava eu, adentrando a sala do sétimo andar do icônico prédio preto na Lagoa Rodrigo de Freitas. Aliás, pertinho da minha casa.

Fui recebido por aquele que já era um personagem nacional; não apenas pelas agruras por que passou com o sequestro, mas por ter tido a audácia de produzir dois eventos que puseram o Rio de Janeiro e o Brasil no mapa internacional do show business: Frank Sinatra no Maracanã e o Rock in Rio. Então fui apresentado ao homem: Roberto Medina. Ele vestia um blazer de veludo bordô e eu não pude segurar a piadinha: “Sua mãe não ficou zangada de você ter usado a cortina dela pra fazer esse blazer?” Todos estouraram uma gargalhada coletiva. Eu estava contratado.

Logo de cara, dei a sorte de acertar na mosca na criação de uma campanha para lançar uma nova modalidade de cobertura do Saúde Bradesco. Na sequência, fiz uns anúncios bem simpáticos para uma concessionária Chevrolet chamada Gatão, que ocupava sempre uma página inteira dos classificados d’O Globo. Lembro que minha filha nasceu e eu estava em pleno período de adaptação na agência. Lembro também que a campanha do Multi Saúde Bradesco foi bastante elogiada pelo Roberto Medina.

Uns dois ou três meses depois, o Wanderlei Dóro me chamou na sala dele e avisou: “Estou saindo. Vou atender a conta da Brahma na Fisher&Justus em São Paulo.” Poucos dias depois eu era promovido a Diretor de Criação da Artplan. Lembro que um dos maiores desafios era justamente manter meu trabalho autoral, como redator, ao mesmo tempo que comandava uma jovem equipe de excelentes criativos: Lelo Nahas, Vivian Hoechner, Rodolfo Sampaio, Marcinha Herchenhorn, Vitor Azambuja, André Kassu, Guilherme Jahara, Serginho Machado, Chiquinho Luchinni e uma moça que era revisora do Dicionário Aurélio, a Elisabeth Jencarelli, que eu um dia cismei de transformar em redatora.

Foi lá, também, que apareceu um menino com cara de louco, olhos verdes arregalados, que trabalhava na Embratel (creio eu) e queria porque queria ser criativo de publicidade. Fizemos um trato: ele teria férias naquele mês no emprego dele e ficaria fazendo um estágio comigo na Artplan. Assim, se não desse em nada, ele tinha o emprego dele de volta, sem problemas. Na última semana, eu disse a ele para pedir demissão do emprego.

O nome do garoto era Roberto Vilhena. Não só deu conta do estágio como se tornou um dos melhores redatores do mercado e me substituiu quando saí da Artplan alguns anos depois. Para dar uma ideia do fenômeno, foi ele quem, décadas depois, já como Diretor de Criação da Artplan, me contratou para voltar a atuar na agência, em 2010. Mas este é um outro capítulo.

A verdade é que passei anos felizes e muito intensos na Artplan, naquele prédio histórico na Lagoa. Fui dupla, em vários projetos, do próprio Roberto Medina, que fiz questão de homenagear lá em cima com uma exagerada repetição da sua presença, tão marcante na minha trajetória.

Outros colegas de destaque na Artplan: o lendário artista e ilustrador José Luiz Benício, que nos honrava fazendo meio expediente na agência, a minha amiga querida Marisa Menezes, que levei comigo para um projeto e o Medina nunca mais deixou ela ir embora, a Margareth Bastos, que secretariava a criação e cuidava de mim como uma leoa vigilante, depois substituída pela doce Deia Luna que foi mais que secretária, uma irmã cúmplice e atenta. E o inesquecível e saudoso Seu Neném, que me viu entrar e me viu sair pela portaria da Artplan.