Menines, eu vivi – 10 – André Lima, Luiz Cavalheiros, Marcelo Noronha e a galera criativa da NBS, Segundo Antonino Brandão.

Data: 12 de junho de 2023 - 17:36
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Pequenas Grandes Histórias Da Publicidade Carioca.

por Toninho Lima

2008 / NBS

De repente, uma ventania com sotaque italiano veio varrer o litoral do Rio de Janeiro, levando o meu amigo e chefe Luiz Nogueira. Todos na McCann, que fossem identificados com aquela chefia, acabaram sendo demitidos. Assim, chegou a mim.

Nem preciso dizer o quanto fiquei triste, já que a McCann vinha sendo uma grata surpresa para mim, que estava acostumado às liberdades criativas na Giovanni e pensei que ali fosse encontrar regras mais rígidas e acabei apaixonado pelo clima daquela equipe. Fui demitido em uma segunda-feira. Na quarta-feira, fui até o escritório para limpar meu escaninho e levar minhas bugigangas. Fui cercado pelos colegas, todos com expressões de tristeza, muito abraçado, acolhido, consolado.

Mas não precisava. Na terça-feira, ainda atordoado pela demissão, atendi a uma ligação do André Lima: A NBS tinha acabado de conquistar a conta de universidade Estácio de Sá e haveria um grupo de trabalho montado especialmente para atender esse novo cliente. Ele queria saber se eu tinha interesse em ser o Supervisor de Criação do grupo. De modo que eu fui limpar minhas prateleiras e gavetas com a alma leve e uma sensação de vitória. Aquilo sim era cair para cima.

A NBS era a referência criativa do mercado naquela época. Todo criativo queria, sonhava, desejava trabalhar lá. Especialmente um criativo que acabara de ser demitido de seu emprego. É como se eu estivesse estrelando o filme de sucesso daquela época: Tropa de Elite. Justo quando eu me sentia como o tal padre De Carli, que prendeu sua cadeira a algumas dezenas de balões de gás e nunca mais foi visto vivo.

Eu já conhecia o André dos tempos da Giovanni, onde fomos animados colegas de equipe. Mas agora nossa relação seria outra, como ele mesmo deixou bem claro na nossa conversa. Ele precisava saber se eu estava 100% comprometido, porque seria muito difícil e doloroso para ele se precisasse me demitir. Nosso grupo de trabalho era situado em outro ponto da empresa, num canto bem retirado do andar, bem longe do salão principal da criação. Isso nos deixava em uma situação um tanto solitária e distante, não fosse um Diretor de Arte extremamente amigável e divertido, que sempre vinha nos visitar na chamada “salinha da Estácio”.

Era o genial André Havt. Apesar de ser o Diretor de Arte Sênior mais próximo ao André Lima, sempre vinha bater um papo comigo e minha equipe, formada pelo Diretor de Arte Luizinho Cavalheiros, um amigo querido, e mais uma dupla de apoio da pesada (não me refiro apenas ao fato de os dois serem mesmo bem grandinhos…) Marcelo Cruz e Felipe Mendes.

Enquanto a gente criava campanhas para a Estácio, que eram aprovadas pelos clientes José Cazar e Denise Danon, as portas do salão “nobre” da criação iam se abrindo aos poucos para visitas rápidas e papos com a galera: Felipe Rodrigues, Marcos Hosken, José Luiz Vaz, Fernando Tige e Ricardinho Weitsman. Olha aí o perfil criativo da agência. Ainda tinha uma galera mais jovem, naquela época ainda júniores, como o meu querido amigo Moisés Ben-Athar, o Moshe, e o Artur Pires, que hoje estão no topo da profissão. O Moshe não sumiu da minha vida, não. Ainda nos cruzamos algumas outras vezes, por sorte minha. Bem, eu estava almoçando um dia com o Luizinho Cavalheiros, que era meu parceiro, quando vimos um alarido de palmas e assovios no restaurante. A tv estava ligada e tinham acabado de anunciar que o Rio tinha sido escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

No início, trabalhávamos exclusivamente para a Estácio. Mas, aos poucos, fomos sendo convidados a participar de grupos de trabalho para a Coca-Cola e Oi. Sorte nossa, minha e do Luizinho. Porque logo a conta da Estácio entrou em concorrência. Pior: nós perdemos. Veio aquele frio na barriga e a lembrança da conversa com o André Lima na minha chegada. Seria difícil para ele se precisasse me demitir. Fiquei mais alguns meses, fiz alguns trabalhos para a Oi, mas assim que tive uma oportunidade, procurei o André e me despedi.

Graças ao meu bom relacionamento com muitos profissionais e, especialmente com um garoto que tive como brilhante estagiário, acabei cavando a minha contratação pela Artplan. Pesou, acima de tudo, o fato de que eu morava na Barra da Tijuca e a NBS ficava em Botafogo. Já a Artplan ficava a poucos metros da minha casa. E meu novo chefe seria o meu mui querido ex-estagiário Roberto Vilhena.

Mas as amizades feitas na NBS perduraram. E os trabalhos que tive oportunidade de realizar lá nunca sairão do meu portifólio. Assim, enquanto as forças policiais do Governo de Estado ocupavam o Complexo do Alemão, eu invadia os salões da Artplan na Barra da Tijuca. Não era a minha primeira vez na agência. E talvez não fosse nem mesmo a última.