Menines, eu vivi – 04 – Rodrigo Sá Menezes & Duda Mendonça

Data: 12 de janeiro de 2023 - 08:21
estrela

Pequenas Grandes Histórias da Publicidade Carioca.

por Toninho Lima

1981-1982 / RODRIGO SÁ MENEZES e DUDA MENDONÇA

O sujeito era uma versão perfeita do herói de revistas em quadrinhos que eu lia na infância: o Buffalo Bill. Chamava-se Bjarke Rink. Apesar do jeitão de caubói americano, era dinamarquês. Era o diretor de criação da Propeg no Rio e estava ajudando a encontrar um redator para a sede da agência em Salvador. Depois de folhear as peças da minha pastinha, me encarou e perguntou, sem delongas: “Gostei, doutor. Quando você pode começar lá?” Na verdade, eu nem tinha pensado na hipótese. Entendi que estavam procurando um redator para trabalhar na Propeg Rio, no aprazível e tranquilo bairro da Urca.

Senti um calafrio percorrer minha espinha quando me vi respondendo que poderia começar no mês seguinte. Foi assim que, em menos de 20 dias, vendi meu apartamento no Leblon, enchi um caminhão baú com móveis e eletrodomésticos, e peguei a estrada com mulher e filhinha de 3 anos no carro, rumo à Bahia. Aventura do começo ao fim. Deixava minha cidade natal, algumas semanas depois de duas bombas explodirem em um carro no Pavilhão Riocentro, numa festa pelo Dia do Trabalhador, matando um sargento e ferindo um capitão.

Há 36 anos, Pelé era eleito o Atleta do Século - A Crítica de Campo Grande  Mobile

Cheguei à simpática capital soteropolitana em meio aos comentários ufanistas causados pelo recente título de Atleta do Século, conferido ao nosso – agora saudoso – craque Pelé. Fui encontrar pela primeira vez o meu novo diretor de criação, Haroldo Cardoso, criativo que eu já conhecia de anuários, que me recebeu carinhosamente. E por ele fui levado à sala do personagem de quem tanto já ouvira falar desde que botei os pés em solo baiano: o Imperador do Nordeste, o famoso Capitão Rodrigo.

Rodrigo Sá Menezes me cumprimentou de trás de sua mesa em uma sala gelada, onde senti frio como nunca havia sentido antes. Os cumprimentos foram rápidos, o que agradeci em pensamento, já que me livrava do frio. Haroldo comentou que ele mantinha a sala assim frigorificada, para desencorajar longas conversas. Entendi. Poucas vezes voltei lá, a não ser quando convocado. E sempre em rápidas e objetivas conversas.

Aí aconteceu de eu fazer uma campanha para o lançamento de um novo condomínio num bairro que estava surgindo e era o endereço da moda na capital. Chamava-se Vilas do Atlântico. Eles já tinham lançado a primeira fase e o bairro já tinha moradores das primeiras casas. Visitando o local, descobri que um casal tinha acabado de se mudar para lá com seu neném recém-nascido. Uma menina. No dia seguinte, estampado no Correio Da Bahia, o anúncio de página inteira anunciava: Já é Primavera no Vilas do Atlântico. Aliás, Já Nasceu o Primeiro Broto.

A peça fez sucesso na agência, na praça e além. Logo o telefone tocou na minha mesa e eu ouvi, pela primeira vez, a voz do Duda Mendonça. Quase me envergonho dessa parte da história. Em apenas três meses de Salvador, trazido do Rio para Salvador pela Propeg com todas as mordomias, me transferi para a DM9. Julguei que teria mais destaque. O salário também era bem maior, fruto de uma conhecida disputa entre os dois empresários. A Bahia havia se tornado uma espécie de paraíso na Terra para criativos paulistas e cariocas por conta dessa rivalidade.

Mas, se com o Rodrigo meu único problema era driblar o potentíssimo ar-condicionado de sua sala, com o Duda meu relacionamento foi complicado e, logo de cara, percebemos que não estava dando liga. Acabei saindo da DM9, sem destino certo. Decidi botar a família no carro, os móveis no caminhão, e voltar pro Rio.

Uns dias depois, recebi um telefonema. Do outro lado da linha, o Haroldo Cardoso me disse: “O Rodrigo mandou oferecer uma vaga na Propeg Rio a você, mas é temporária.” Assim, voltei para o Rio e fui trabalhar na Urca, sob direção do Bjarke, com a melhor condição que já me ofereceram: assim que eu arrumasse outro emprego, seria demitido.

Era o Rodrigo Sá Meneses me dando mais uma lição de elegância e ética.

Outros colegas memoráveis da Propeg e da DM9: José Armando Nogueira, redator de mão cheia e uma amizade que logrei manter até os dias de hoje. Gui Bamberg, profissional de atendimento, com quem mantenho eventual contato. Haroldo Cardoso, meu diretor de criação na Propeg. Luiz Gonzaga Saraiva, o outro redator da DM9, que fazia dupla com o lendário Clicio Barroso, pai do Zeca Barroso, com quem fiz dupla algum tempo depois.