Menines, eu vivi – 03 – Rógerio Steinberg & Estrutural

Data: 20 de outubro de 2022 - 19:16
estrela

Pequenas Grandes Histórias da Publicidade Carioca.

por Toninho Lima

1980 / ROGÉRIO STEINBERG

O papa João Paulo II chegava ao Brasil para uma visita de doze dias. Já no Congresso Nacional era aprovada, por unanimidade, a emenda constitucional que reestabeleceria as eleições diretas para governadores dos Estados e do Distrito Federal. Os ares iam-se tornando mais leves no país todo. Embora ainda estivéssemos em pleno regime militar, já havia um clima de abertura política nas conversas e a censura já não era tão temida.

Fui contratado pela Propaganda Estrutural numa manhã de segunda-feira, como supervisor de criação, pelo elegante e hábil empresário Armando Strozenberg. No mesmo dia, no meio da tarde, fui rebaixado a redator pelo seu sócio na agência, Rogério Steinberg. Iniciava-se assim uma das duplas mais estranhas e produtivas da publicidade carioca.

Antes de mais nada, Rogério era um gênio. E sabia disso. E, além de sócio da agência era, também, filho do maior cliente da Propaganda Estrutural: a Servenco Engenharia. Rebaixado, eu tive uma excelente compensação. Como redator, eu era dupla do dono da agência. O que me conferia um belo status e as manhãs quase sempre livres. Rogério não costumava aparecer na agência antes do meio-dia. O chato é que, quase sempre, ele já chegava com uma ideia pronta. Era necessário haver muita discussão, às vezes aos berros, para que eu conseguisse emplacar uma mísera contribuição.

Houve uma vez em que a discussão esquentou e fomos para o lado de fora da agência, que ocupava um belo sobrado na Rua Farme de Amoedo, e saímos no braço. Literalmente. Eu fui para casa com a camisa rasgada e imaginando que não tinha mais emprego. No dia seguinte, para minha surpresa total, foi como se nada tivesse acontecido. E assim a vida seguiu.

Com o crescimento da agência, acabei tendo outros diretores de arte como parceiros na Estrutural: a Ilda Fuchshuber, o Roberto Carlos Ribeiro e o Marcos Guedes, meu ex-dupla na L&M e na Oliveira, Murgel, que acabei puxando para lá.

Acabei saindo da Estrutural quando decidi ir morar na Bahia. Somente muitos anos depois, encontrei o Rogério em um restaurante no Rio. Foi um reencontro e uma mútua constatação de que restava uma sólida amizade. Poucos meses depois eu soube da sua morte, em um terrível acidente de automóvel na estrada de Búzios para o Rio.

Dessa nossa dupla, guardo com carinho um anúncio acima que fizemos para a MG-500/Servenco, como se fosse uma página de classificados no jornal, em que todos os personagens são funcionários da Estrutural. Eu fui múmia e saxofonista.

E, para não perder a tendência subversiva, destaco o primeiro nu masculino na tv brasileira, no filme que criamos juntos para a Adonis, que repercutiu muito na ocasião.

Outros colegas memoráveis da Propaganda Estrutural: Ricardo Vasseur, diretor de atendimento, infelizmente falecido ainda jovem, era dublê de ator, e uma das figuras mais engraçadas e malucas que jamais conheci. Weimar Freitas, profissional de mídia, até hoje meu amigo. Áurea Helena Silveira, que muitos conhecem como a fundadora e mantenedora da Associação Nacional Memória da Propaganda, e era a tráfego da agência. Marina Colasanti, já escritora consagrada, e que nos honrava como redatora eventual em algumas campanhas.